quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Porque os Avivamentos Terminam


Introdução

 Os avivamentos, embora sejam muito desejados e promovam um clima de notável satisfação espiritual em seu início, não costumam durar muitos anos. Por um lado, manifestações humanas (carnais) em reação à operação do Espírito Santo maculam a pureza da Obra que o Espírito Santo começou a realizar, enfraquecendo e apagando a chama que ardia no início. Por outro lado, manifestações espirituais que não provêm do Senhor também costumam penetrar na Igreja, perturbando a Obra que o Senhor está realizando.

Que manifestações humanas (carnais) e espirituais são esses que causam o declínio da operação do Espírito Santo nas igrejas atingidas pelo avivamento? São manifestações corporais como resultado da operação da carne (Gal. 3:3) e de espíritos enganadores (I Tim. 4:1). O que possibilita essas operações? Primeiramente, brechas causadas por pecados ocultos e pela exaltação de pessoas usadas pelo Senhor. Em segundo lugar, desobediência a orientações e princípios estabelecidos na Bíblia. Finalmente, falta de conhecimento da Palavra de Deus e falta de discernimento espiritual.

Mas qual seria a razão de a Igreja em estado de avivamento não ser capaz de lutar contra esses males e prevalecer? E de que recursos a Igreja dispõe para evitar a corrupção do verdadeiro avivamento?

A Natureza do Avivamento
O avivamento é o resultado de um derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja que está vivendo em um estado de mornidão espiritual (Apo. 3:15-16), levando a Igreja a retornar à prática de toda a Palavra de Deus (II Tim. 3:16-17). A razão para a presença desses dois elementos divinos é que o Espírito opera por meio da Palavra (Ef. 6:17).

Em todo verdadeiro avivamento ocorrem certas manifestações do Espírito Santo: uma poderosa manifestação da presença do Senhor no meio da Igreja, a pregação da pura Palavra de Deus, um derramamento do amor de Deus nos corações, uma paixão pelas almas perdidas e o desejo generalizado de viver para agradar o Senhor.

Todas essas manifestações levam a Igreja a ter um especial prazer em orar e jejuar, ler a Bíblia, estar presente nos cultos e reuniões de oração, evangelizar e servir o Senhor e aos irmãos. Como resultado a Igreja cresce na fé, no amor e na esperança da volta do Senhor Jesus (I Cor. 13:13). Os dons espirituais se manifestam e o fruto do Espírito (Gal. 5:22-23) aumenta na vida da Igreja. Continuamente vidas se convertem ao Senhor Jesus (At. 2:46-47), pois o Senhor confirma a pregação da Palavra por meio de sinais (Mar. 16:20). Essas operações do Espírito tocam profundamente não apenas o espírito dos crentes, mas também suas emoções.

Falsos Avivamentos
Muitos movimentos espirituais caracterizados por emoções coletivas e comportamentos não-bíblicos embora sejam denominados “avivamentos” por seus líderes, não são resultado de operações verdadeiras do Espírito Santo, mas são resultado, muitas vezes, de técnicas psicológicas de animação mediante as quais pregadores procuram promover um estado emocional exaltado entre as congregações. Muitas vezes esses líderes assim procedem não necessariamente por má-fé mas por ignorância a respeito da forma pela qual o Espírito Santo atua e por desconhecerem as verdadeiras características de um avivamento genuíno.

A falsidade desses avivamentos pode ser atestada mediante uma comparação entre os fenômenos que neles ocorrem e os ensinos das Escrituras Sagradas. Nesses “avivamentos”, os líderes promovem práticas emocionais de louvor e de testemunhos desprovidos de sabedoria, e ocorrem fenômenos corporais e mensagens “proféticas” que se ensinam em cursos (em oposição a um dom concedido pelo Espírito Santo). Esses líderes costumam alegar que todas essas práticas e manifestações ocorreram em genuínos avivamentos. Trata-se, no entanto, de uma falácia, pelo que se explica a seguir.

As referidas práticas e manifestações ocorreram, é verdade, em avivamentos genuínos, só que na fase em que elementos não-espirituais penetraram nas igrejas, causando inclusive o fim desses avivamentos. Da leitura da história desses avivamentos – inclusive dos ocorridos na Nova Inglaterra no tempo de Jonathan Edwards, na Inglaterra na época de John Wesley e em Wales nos tempos de Evan Roberts – somos informados de que esses avivamentos, que começaram por uma autêntica operação do Espírito Santo, foram, a seguir, prejudicados pela ocorrência dessas manifestações e práticas, que provocaram o fim do genuíno movimento do Espírito.

Atualmente, conduzidos por líderes que ignoram os limites estabelecidos na Palavra de Deus e que desconhecem a história da Igreja, muitos crentes sinceros estão aceitando práticas e ensinos que não provêm de Deus, repetindo, assim, os mesmos erros praticados em avivamentos. Esses crentes estão dispostos até mesmo a se comportar nos cultos de uma forma inconveniente, contrariando o que a Bíblia ensina sobre sabedoria, decência e ordem (I Cor. 14). Por ignorância, justificam suas práticas alegando que ocorreram em avivamentos passados.

Manifestações do Homem (a Carne)
Em verdadeiros avivamentos ao longo da história da Igreja, ao lado da operação genuína do Espírito Santo, sempre ocorreram, a partir de um certo momento, uma série de manifestações que não são promovidas pelo Espírito de Deus, mas são apenas manifestações do homem (referidas nas Escrituras como da “carne”): 

1) Falta de ordem e decência (I Cor. 14:40) – o homem passa a dar vazão à sua maneira às emoções genuinamente espirituais que sente; embora as emoções possam ter sido produzidas pelo Espírito, as manifestações exteriores das emoções são da carne;

2) Testemunhos públicos exaltados a respeito de suas “experiências” de conversão, nas quais são enfatizados pecados cometidos;

3) Uso dos dons espirituais sem sabedoria (línguas sem interpretação) (I Cor. 14:20, 23) e sem submissão aos pastores (transmissão de profecias e outros dons entregues por um crente a outros crentes);

4) Transmissão de profecias, sonhos e visões em público para acusar membros da igreja ou pastores (as operações do Espírito Santo são para edificação – I Cor. 14:3);

5) Prática de dons espirituais em público com grande emotividade e gestos dramáticos, chamando a atenção para sua “espiritualidade” e infundindo “respeito” nos ouvintes; e

6) Auto-exaltação por parte de líderes usados por Deus ou exaltação dos líderes por parte da Igreja.

Doutrinas Bíblicas e Discernimento
A corrupção dos avivamentos genuínos, como resultado de práticas carnais ou da interferência de espíritos enganadores, ocorre sobretudo por falta de conhecimento da Palavra de Deus (Mat. 22:29) e por falta de discernimento espiritual (I Cor. 12:10). Poder-se-ia acrescentar, ainda, que ocorrem por falta de conhecimento de história da Igreja, em particular de história dos avivamentos, pois este conhecimento ajudaria a ensinar os crentes de hoje a respeito de práticas a evitar.

Por falta de firmeza no conhecimento da Palavra de Deus e por falta de discernimento espiritual (Apo. 3:18b), muitos pastores se enganam com respeito a manifestações espirituais, não sabendo distinguir com segurança o que é do Espírito Santo. Além disso, temem apagar ou entristecer o Espírito Santo, caso impeçam alguns fenómenos que não lhes parecem convenientes se manifestem. Como resultado, acabam admitindo práticas e comportamentos que são da carne ou, até mesmo, de espíritos enganadores.

A falta de discernimento espiritual consiste na incapacidade de distinguir entre o que é do Espírito Santo, o que é do espírito do homem e o que provém do adversário. Esse discernimento pode advir da operação do dom “discernimento de espíritos”, por revelação específica do Senhor ou pelo conhecimento das Escrituras, nas quais se encontram uma série de princípios gerais e ensinos específicos que esclarecem a Igreja a respeito de práticas que procedem do homem ou do Adversário.

Alguns princípios ensinados pela Palavra de Deus que ajudam a Igreja a evitar práticas errôneas são os seguintes:

a) Glória se dá apenas a Deus, não a homens (sequer a “grandes servos” de Deus);

b) A Obra de Deus – ou seja, a Igreja – não tem fundadores nem donos; Jesus é o único fundador (Mat. 16:18);

c) O Espírito dos profetas está sujeito aos profetas (ninguém pode alegar que o Espírito o forçou fisicamente a dizer ou a fazer algo) (I Cor. 14:32);

d) Tudo deve ser feito na Igreja com decência e ordem;

e) Deve-se proceder com sabedoria e bom senso na Igreja, evitando que os descrentes pensem que os crentes estão loucos (deve-se evitar escandalizar visitantes) (I Cor. 14:23);

f) A Igreja deve viver observando os limites estabelecidos pela Palavra de Deus (não se devem aceitar manifestações espirituais não sancionadas pelas Escrituras) (I Cor. 14:47);

g) A Igreja deve testar ou julgar os dons espirituais (I Tes. 5:19:21) para saber se os dons procedem ou não do Senhor (não se julgam os profetas, mas as profecias – I Cor. 14:29 - pois todos os crentes falham no uso dos dons espirituais);

h) As Escrituras contêm todas as doutrinas e práticas necessárias à edificação da Igreja (Gal. 1:9), que não precisa de novidades doutrinárias (tampouco ênfases não-bíblicas em doutrinas que são bíblicas); e

i) A Igreja não precisa de “fogo estranho” (Lev. 10:1-3) para ser animada, estimulada a sentir emoções divinas e para louvar a Deus; apenas o fogo do altar – o Espírito Santo – deve manifestar-se na Igreja; os dirigentes não devem, portanto, apelar para as emoções da Igreja, não devem usar métodos de animação baseados na psicologia ou praticados no show business.

Os limites estabelecidos explícita ou implicitamente no Novo Testamento para a utilização dos dons espirituais (I Cor. 14:37) evitam que os dons sejam mal utilizados. Pode-se, por exemplo, falar em línguas estranhas em voz alta (para edificação própria), quando se está sozinho em casa. No entanto, quando se ignora este limite e se fala em público, na igreja, línguas estranhas, não havendo intérprete, desrespeita-se um limite estabelecido na Palavra de Deus. Em outras palavras: fogo é uma bênção desde que esteja disciplinado, ou seja, no fogão; quando ultrapassa esse limite e sai do fogão, alcançando os móveis na sala, torna-se um problema.

Para compreender tais limites é necessário estar integrado a uma Igreja que pratica plenamente a doutrina do Corpo, da forma indicada sobretudo em I Coríntios 12 a 14, pois apenas esta Igreja recebe do Senhor revelação e discernimento. Em contrapartida, um membro que se isola e se afasta do Corpo, não se submetendo à autoridade ou ao conselho de seu pastor termina por perder o discernimento sobre o que provém do Espírito Santo e, depois, até mesmo, do que é pecado.

Doutrinas esquecidas: Corpo e Revelação
Pode-se, agora, indagar: porque a Igreja não detectou a tempo esses erros e porque não teve condições de evitá-los, nos casos em que contava com pastores que tinham discernimento espiritual e conhecimento das Escrituras Sagradas?

A Igreja esqueceu-se de duas doutrinas bíblicas que são básicas para a saúde espiritual da Igreja e que, por essa razão, devem ser bem entendidas e praticadas: Corpo e Revelação. Por Corpo entende-se que a Igreja deve viver como o Corpo de Cristo, com cada membro se submetendo ao Senhor Jesus como Cabeça da Igreja, com cada membro desempenhando a função que o Senhor lhe deu no Corpo, submetendo-se um ao outro, levando as cargas um do outro, vivendo para servir a Igreja e o Senhor.

Por Revelação entende-se toda a Palavra que procede da boca de Deus. A Igreja deve ser dirigida pela Palavra de Deus – quer pelas doutrinas, práticas e princípios bíblicos, quer pelas orientações transmitidas pelo Espírito Santo através dos dons espirituais.

Por que razão a prática da doutrina do Corpo de Cristo é necessária para evitar a corrupção do avivamento? A prática dessa doutrina é fundamental para a vida da Igreja, pois permite que a igreja cresça na graça e no conhecimento do Senhor Jesus. Isso se deve porque, quando as Escrituras falam de Corpo, referem-se também a Governo e Disciplina.

No Corpo de Cristo, ressalta primeiramente o Governo do Senhor Jesus como o Cabeça, ao qual os membros devem obedecer. Os membros não fazem sua própria vontade nem escolhem a função que querem desempenhar no Corpo. Os membros do Corpo devem, antes, exercer as funções que o Senhor lhes determinou.

Por outro lado, os membros devem submeter-se uns aos outros, em primeiro lugar ao Pastor, a seguir aos diáconos, respeitando a autoridade de cada servo em sua área de atuação. Exemplo: o pastor tem autoridade para corrigir, exortar toda os membros; o professor de escola dominical tem autoridade para orientar a sua classe e para ensinar da parte do Senhor, etc.

Quando se fala de Governo, fala-se implicitamente de autoridade, ordem e orientação. Todos esses elementos protegem o Corpo do engano do adversário. Quando há ordem no Corpo, os crentes atendem as determinações do Senhor e os servos que têm autoridade transmitem aos demais membros as orientações da Palavra e as reveladas através dos dons espirituais.

Dessa forma, quando o Senhor deseja operar algo na Igreja, sabe que basta revelar Sua vontade, pois a Igreja obedecerá à orientação que será transmitida pelo Pastor (exemplos: orientações sobre um jejum, sobre uma evangelização, sobre levantar um crente para ser professor de escola dominical, etc.).

Para que um Corpo funcione com harmonia e desempenhe satisfatoriamente todas as suas funções vitais e o trabalho que dele se espere é, portanto, necessário disciplina, ou seja, obediência ao Senhor e submissão aos servos que têm autoridade na Igreja.

Quando a Igreja não está organizada como Corpo nem vive como Corpo de Cristo há anarquia e individualismo. Cada membro faz sua própria vontade, rejeita orientações que o Senhor revelou à Igreja, não aceita o conselho do pastor, etc. A razão é desse comportamento é que, não há Corpo, nem governo; prevalecem, então, o desgoverno, a desordem e a falta de autoridade. Não há, tampouco, disciplina, mas insubmissão, desrespeito à autoridade e desobediência ao Senhor (Judas 8, 10).

Nesse estado de falta de governo e de disciplina, os limites estabelecidos no Novo Testamento não são observados, proliferando a falta de discernimento, sabedoria, decência e ordem nos cultos, em particular no uso dos dons espirituais, com os consequentes escândalos, decepção com o uso dos dons, manifestações da carne e, ao final, do próprio Adversário.

Revelação é toda a Palavra que procede de Deus. A Bíblia é a Revelação de Deus aos homens. Mas o Senhor também revela Sua vontade à Igreja por meio dos dons espirituais. Por meio dos dons de profecia, interpretação de línguas e palavra de conhecimento, a Igreja recebe Revelação da parte de Deus.

Por meio da Revelação, o Senhor transmite detalhes a respeito de Seu Plano para a edificação da Igreja. Quando o Espírito Santo está transmitindo essas orientações, o Senhor Jesus se manifesta como Cabeça da Igreja. A Revelação, contudo, somente funciona bem no Corpo, ou seja, em uma Igreja que é vive como Corpo de Cristo: uma Igreja que se submete ao Cabeça, obedecendo aos seus pastores e às determinações reveladas pelo do Espírito Santo.

Compete à Igreja, como Corpo de Cristo, atender à Revelação, ou seja, obedecer às determinações que o Senhor Jesus transmite por meio dos dons espirituais. Havendo obediência à Revelação, a Igreja é preservada do engano do adversário e do pecado, pois o Senhor revela o que não lhe agrada, o que deve ser corrigido e como obter vitória em lutas espirituais, dando conhecimento ao Seu Corpo a respeito das falsas doutrinas, práticas da carne e outros fenômenos que permitem interferências do Adversário.

A falta de Revelação, por outro lado, causa desorientação, falta de foco e falta de objetivo, além de ausência de conhecimento do Plano de Deus para a edificação da Igreja. Por não entender qual é o plano do Senhor para sua edificação, a Igreja está aberta a programas, doutrinas novas e práticas que prometem “promover o avivamento”, mas que muitas vezes só afastam o Espírito Santo. Isso ocorre muitas vezes porque, ao impossibilitar o Governo do Senhor Jesus, o homem assume o governo da Igreja e os planos do homem tomam o lugar do Plano de Deus.

No entanto, havendo Revelação, a Igreja tem conhecimento mais preciso da vontade do Senhor, que também concede discernimento espiritual à igreja, através do dom “discernimento de espíritos” e através do entendimento da Sua Palavra, capacitando a Igreja a entender o verdadeiro sentido das Escrituras, ou seja, habilitando-a a ver o que está além da letra.

Conclusão
Por falta de entendimento e de prática dessas doutrinas fundamentais do Novo Testamento - Corpo de Cristo e Revelação – os avivamentos acabaram por chegar ao seu fim. Por não viver essas doutrinas, a Igreja perdeu as bênçãos decorrentes do governo, da disciplina e da direção do Senhor Jesus, por meio das quais pode desfrutar de conhecimento e discernimento de toda a vontade de Deus.

Quando a Igreja pratica as doutrinas do Corpo de Cristo e da Revelação, continua unida ao Cabeça e recebe todos os impulsos vitais e as orientações necessárias à Sua edificação. Recebe, também, o conhecimento revelado da Palavra de Deus e o discernimento (por meio do dom de discernimento de espíritos ou por revelação) a respeito de doutrinas e práticas que provêm do Espírito Santo.

Mediante o conhecimento e a prática dessas doutrinas, a Igreja será sempre vitoriosa, pois atenderá aos limites estabelecidos pelo Espírito Santo na Palavra de Deus e terá discernimento quanto às manifestações da carne e do Adversário que podem corromper o avivamento. Por essa razão, o avivamento que o Senhor opera atualmente em Sua Igreja não precisa terminar, mas pode durar até a volta gloriosa do Senhor Jesus! 

Maranata! “Ora Vem, Senhor Jesus!

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